O que é a Campanha?
A Campanha dos 21 dias de ativismo contra o racismo é uma frente de luta apartidária, sem fins lucrativos, e autogestionada criada por ativista do movimento negro, com a missão de pautar a luta antirracista em diferentes escalas e contextos como uma luta diária e contínua.
A proposta da Campanha foi criada pela ativista Luciene Lacerda que mobilizou um conjunto de ativistas pela primeira vez em 2016 para fortalecer o dia 21 de março, o dia internacional de combate à discriminação racial. Essa foi decretada pela ONU após uma manifestação pacífica, em 1960, contra o regime do apartheid e a Lei do Passe que impedia a livre circulação em Shaperville, Joanesburgo, na África do Sul ser duramente reprimida pelo governo, com 69 assassinatos e centenas de feridos. Após esse massacre a Organização das Nações Unidas decretou o dia 21 de março como o dia mundial de combate a discriminação racial. A data mais propagada era o dia 20 de novembro, importante data da morte de Zumbi dos Palmares, mas que não era a única da luta negra e contra a discriminação racial. Um país com 56% da população sendo negra, muitas datas e lutas contra o racismo precisam ser lembradas. Assim como essa mostra de muitas das lutas africanas contra a opressão e racismo, muitas lutas foram e são feitas na Diáspora Africana.
Durante os 21 dias de ativismo contra o racismo fazemos interações com ativistas de vários cidades e países para que apresentem seus ativismos e suas principais lutas em suas regiões; e realizar trocas em nome da internacionalização das lutas e ativismos antirracistas
A primeira edição da Campanha foi realizada durante 21 dias no mês de março de 2017. Desde então, a Campanha é realizada todo o mês de março definido em plenárias públicas nos meses anteriores. Desde da primeira edição, a Campanha incorporou o 08 de março (Dia Internacional da Mulher) além do dia 21 de março como datas coletivas de ações. No decorrer dos anos a Campanha incorporou outras datas, no mês de março, para ações coletivas. Dia 14 de março (dia que Marielle Franco e seu motorista Anderson foram assassinados saindo da Campanha dos 21 dias no ano de 2016); 16 de março (dia que Cláudia Silva foi assassinada numa operação policial). Nesta data passamos homenagear também a todos os que foram mortos pelo racismo de Estado nas operações policiais.
No país que entre os séculos XVI e XIX o racismo era oficialmente o instrumento para escravizar pessoas pela cor da pele, instituições escravistas foram reconfiguradas e permanecem até os dias de hoje conduzindo uma política de morte contra os corpos pretos, como a polícia. O Brasil foi o país que mais recebeu escravizados de toda a Diáspora gerando uma sociedade extremamente desigual. O Estado Brasileiro promoveu oficialmente uma Abolição sem políticas de reparação e difundiu a ideologia da democracia racial silenciando um histórico de brutalismo e violências pela ideia de raça. O racismo ataca, constrange, fere, mata pessoas e destrói territórios negros
A Campanha dos 21 dias de ativismo contra o racismo é uma campanha antirracista que entende não é possível termos uma democracia numa sociedade racista. A falta de vinculação com governos e/ou secretarias visa que estas instituições implementem as leis antirracistas já aprovadas; e não apenas façam atividades sem o exercício e orçamentos que essas leis necessitam para sua implementação.
A Campanha visa inspirar ações da sociedade civil, conectando entidades, organizações e instituições do movimento negro e ligadas a luta antirracista a criar ações para eliminar o racismo de nossa sociedade. Como diz Angela Davis (Feminista e Filosofa estadunidense): “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.
Coordenação
Luciene Lacerda
Psicóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
É criadora e integrante da Coordenação dos 21 dias de Ativismo contra o racismo e integrante da Coalizão Negra por Direitos, e também do Fórum Estadual de Mulheres Negras. Integra a coordenação do Instituto Búzios na coordenação de ações feministas. Participa do NEABI e da Câmara de Políticas Raciais da UFRJ; e também a ANPSINEP (Articulação Nacional de Psicólogos Negres) Recebeu as medalhas Chiquinha Gonzaga (2015) e Pedro Ernesto (2022) da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Luiz Fernandes de Oliveira
Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-RJ; Professor de Ensino de Ciências Sociais na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), atuando na Licenciatura de Educação do Campo.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares – PPGEDUC da UFRRJ.
Raquel Matoso
Professora de história, licenciatura e bacharelado UERJ.
Uma jornada em pré vestibular comunitário em educação antirracista, colaborando atualmente com Pré Vestibular RSI lecionando história, no Alto da Boa Vista e na equipe pedágio do Só Cria, no centro do Rio. Trabalha na Pró-Reitoria de Assistência Estudantil da Uerj PR4, com ações afirmativas. É uma das gestoras do Movimento Negro Evangélico no Rio de Janeiro e uma das representantes nacionais no MNEBR. Integrante do Nós na Criação e do grupo de pesquisas Africas Uerj/UFRJ.
Denilson Araújo de Oliveira
Professor do Departamento de Geografia Humana – UERJ. Coordenador do NEGRA – Núcleo de Estudo e Pesquisa em Geografia Regional da África e da Diáspora – Integrante do ProAfro- UERJ e do Instituto Búzios
Ana Paula Procópio
Professora adjunta da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Doutora em Serviço Social (UFRJ, 2017). Mestre em Serviço Social (UERJ, 2009). Possui graduação em Psicologia (UGF, 1996) e em Serviço Social (UERJ, 2007). Coordenadora do Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-americanos -PROAFRO UERJ. Pesquisadora integrante do Centro de Estudos Octavio Ianni (FSS/UERJ). Coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Uerj. Tem experiência na área de Serviço Social, com ênfase em Serviço Social e processos de trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos do serviço social, trabalho, relações étnico-raciais, gênero, educação, saúde e saúde mental.
Bruna Pereira
Nordestina de Pilão Arcado, é graduada em Desenho Industrial pela PUC-Rio. Tem formação em design pela Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia. Possui experiência de mais de dez anos com comunicação visual, tendo atuado como assessora parlamentar da deputada federal Talíria Petrone (RJ). Integra o coletivo Mulheres Negras Decidem, compõe a comunicação da Coalizão Negra por Direitos e a Campanha 21 Dias de Ativismo contra o Racismo. Trabalha como comunicadora visual no Instituto Vladimir Herzog.
In memoriam
Aderaldo Pereira dos Santos
No seu trabalho como Aderaldo. Adotou então, Aderaldo Gil. Ele foi trazido para o Rio com apenas dois anos de idade, sendo o lugar ao qual foi criado, desenvolvendo suas paixões pelo cinema, pelo samba, pela militância negra e sindical, pelos animais e pelo mar. Começou a trabalhar cedo no banco, mas depois de desistir de fazer cinema, por considerar a dificuldade de se manter, fez faculdade de Direito, desistiu; e resolveu fazer História, na UFF.
Pós doutorado em História pela UFF (2022) com o militante negro Vicente Ferreira como tema; Doutor em História da Educação pela UFRJ (2019) tendo o Professor Hemetério José dos Santos, primeiro professor negro do Instituto de Educação e do Colégio Militar, como tema – “Arma da Educação: Cultura Política, Cidadania e Antirracismo nas experiências do Professor Hemetério José dos Santos”; Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2007); Especialização em História da África e do Negro no Brasil pela Universidade Cândido Mendes (2008); Especialização em História do Século XX pela Universidade Cândido Mendes (2001); Graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (1992); Professor de História do DEGASE e da FAETEC; Coordenador de pesquisa do Centro de Memória da FAETEC (CEMEF); Pesquisador do Centro de Documentação e Memória do DEGASE (CEDOM).
Suas lutas eram também temas de seu trabalho e aguerrida militância: História da educação de negras e negros; protagonismo de negras e negros na História; Movimento Negro e a luta antirracista; Educação em ambientes socioeducativos; Ensino da História da África e dos afrodescendentes na diáspora; Educação antirracista.
Aderaldo Gil era um homem calmo e tranquilo, porém muito firme nas suas convicções e palavras. Sempre encarou a vida de forma leve e serena, desprendido de qualquer obsessão por objetos materiais. Seu amor pelo samba se expandia nas suas composições, seu amor pela vida era nos ensinado em cada conselho, cada palavra de conforto e cada incentivo para encarar as adversidades de forma mais leve, mas nunca deixando de lado as lutas para uma sociedade antirracista.
Começou a militar após ver uma banquinha na rua convocando para a Marcha contra a farsa da abolição. Foi um dos mais aguerridos organizadores. É possível ouvir sua voz no vídeo sobre a Marcha de 1988. Integrou o IPCN, membro da coordenação da Campanha dos 21 dias de ativismo contra o racismo. Foi militante no sindicato dos bancários, da Associação de Professores do DEGASE e também da FAETEC.
Em 25 de março deste foi internado com sepse respiratória em um hospital de Maricá, onde faleceu após 3 meses de muita luta – como sempre, aos 61 anos.
Deixando viúva, Luciene Lacerda, e seus dois filhos, Glauber Machel e Ana Luiza, e seu enteado, Luan Thambo.
Esse gentil, amoroso, afetuoso, companheiro, e um excelente pai e padrasto deixou saudades e amigos por onde passou. Um historiador que fez história e recolocou na história importantes militantes da luta antirracista. Esta luta que nós ainda temos tanto a fazer.